A tua face indecisa abriu-se à transparência, deixando entrar a luz que ilumina a ave de ti. Por isso, num simples olhar difuso, voltei a ver a tua leveza dourada. Por isso, o vento levou o meu corpo para o teu. E quando a noite chegou, as palavras escorreram em nós. E o mais subtil ruído foi a música que nos embalou.
Lá longe, no mar, navegavam palavras e tempo. Cruzavam-se memórias e sóis, enquanto tu, sozinha, dançavas no azul a valsa de outra manhã.
Sempre pensei que não chegaria aqui. Foi o voo dos insectos que me deu a direção. E assim regressei. Regressei ao teu beijo como quem regressa a casa ao pôr-do-sol.
As palavras que trocámos ficaram suspensas no dia em que te trouxe da areia. O teu olhar recuou, as mãos tremeram nas mãos. Foi impossível controlar o instante: o vento veio e soprou, mas nunca se deixou apanhar.