Saturday, November 21, 2020

 

As árvores do meu sonho são partículas que pontuam as noites frias de neve. São palavras que se aglutinam no leito seco do rio. E as mensagens, os milhares de mensagens de gente que espera, de gente que quer, foram enviadas para um céu que há muito morreu. Não há no universo cores suficientes. E o espaço infinito não chega para compensar o que falta.

As árvores do meu sonho gretam no verão, enquanto a morte vai e vem sorrindo feliz. Ora há vento, ora tombam num chão de areia ondulada. Mas eu não ajo, nem falo, nem ofereço tulipas de amor. Porque naquele horizonte, o azul que nele vivia, foi desviado para longe, por alturas do solstício. Como vidro que sempre fui, parti-me em pedaços, e assumi assim o comando de um mundo que não é só teu.

As árvores do meu sonho são gigantes de carvão na paisagem. Não sentem, não escutam, não segredam. Não cravam as raízes nas pedras que suportam os grandes desígnios. Tudo, como elas, como eu, se limita a esperar em breves compassos musicais, sem surpresas.

O homem muito pequeno, minúsculo no vulto, é viajante lunar. Corre sempre ansioso para atingir os seus fins. Enche-se de desespero num curto-circuito de luz, olha em redor e acena às manchas sanguineas do sol que ele próprio criou. Jamais parará no seu movimento fluído, jamais regressará ao nexo. E, entretanto, as árvores do meu sonho vão lentamente secando nas costas das tuas mãos.

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