Monday, July 23, 2007


silêncio
vácuo
uma luz

o desejo francesmente sentido
do rebuscado je ne sais quoi
sob uma prata misteriosa

um sinal repugnante numa cara branca barroca
uma avaria brilhante num moderno plasma tv

eis a lua

confundes-me, redonda,
e não me iluminas caminho

perco-me nos detalhes das crateras
quando a vida é iminentemente
terrena

fosse eu peixe
cetácio
libélula

creatura lunar
filha da criação

mas não sou!

pouso neste ramo arborícola
permaneço iludida

orgulho-me
pelo simples facto
de estar no planeta azul

mas em que outro sítio
deveria eu surgir?

onde?

em que parte da pintura a negro
a que chamais céu?

não, meus caros!
é melhor não ir por aí
não serve de nada
nem daria gozo a quem lesse isto

a lua
é o olho gigante de mim
a vigiar os meus actos

(dizia o virgílio ferreira qualquer coisa deste género
mas sempre assumi que haveria de pelagiar esta ideia!)

a lua é um olho gigante
que vigia os meus actos

de noite ou de dia
antes ou depois das refeições

a lua vigia quando quer
porque é provavelmente essa
a sua missão

a lua é o vigilante
é o guarda-nocturno
é o satélite americano
que sabe exactamente
o que estou agora a fazer

a lua é indiscreta
é um falo violador
da intimidade do meu poema
XXX
XXX
ouve:

hoje, no regresso
voltei a passar em casa de deus

desta vez, lua
fui apenas eu que falei
XXX
mais ninguém

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