Wednesday, February 14, 2007

entre tantas pedras espalhadas no chão
entre montículos de livros que enlaçam as pedras
em abraço a um pó que só vive aqui
no silêncio de agora
tecto gigante da catedral que me cobre

no silêncio de agora
em que lentas palavras fluem
ao ritmo de uma luz que entorpece o olhar

agora, o agora mesmo
em que o céu clareia de novo um despertar
e o vidro, o vidro, o vidro e o vapor
mais o som gelado de uma máquina estranhamente nocturna
hesitante, hesitante, sonoramente hesitante

sem mais sinais de vida, sem ecos
na fábrica, aqui ao lado
ou nos maquinismos da cave

tão profunda a ausência, tão grave, sisuda
luz entumescida que embate violenta, lenta
de novo no olhar

vou para aí ter convosco, convoco
vou no comboio das nove
logo a seguir ao fevereiro do meu esquecimento
(quem trabalha entretanto, entre tantos, na fábrica?)

que luz ou sinais recebo?

entre os elementos do meu espaço sou rei
alga sem mar no universo daí

não posso ainda deixar tombar o corpo
ou perder a memória
é preciso acabar o texto
é preciso acabar

abafa-me este vazio (é preciso acabar)
que na hora me resguarda
o vazio-fosso que serve apenas
para me proteger...

... quem arrasta os ferros na fábrica
e caminha por sí próprio em direcção à manhã?

No comments: