Wednesday, April 05, 2006

© Ana Sã
as árvores do meu sonho
as partículas que arrefecem
as noites do meu inverno

palavras que se aglutinam
junto à nascente do rio

mensagens, milhares de mensagens
de gente que espera
de gente que quer
vindas de um céu
que há muito morreu

não há no universo
cores suficientes
o espaço infinito não chega

as árvores do meu sonho
secaram no verão
a morte vai e vem
sorrindo feliz

ora há vento
ora tombo num chão de areia ondulada

não penso não falo não dou
aquele pequeno regato
o azul que nele vivia
foi desviado para longe
no dia em que sofri

como vidro que sempre fui
parti os meus próprios pedaços
assumi o comando de um mundo
que não era apenas meu

as árvores do meu sonho
gigantes carvões
na paisagem
em segredo não falam
não choram
não cravam as raízes à terra

tudo
como elas
como eu
se limita a esperar
é só mais um compasso de espera
de música de prazer auditivo

é só mais um compasso de espera
à espera dos gritos de medo
do pequeno homem que espera

em viagem
sempre em viagem lunar
em corrida ansiosa para atingir o que é fim

todo este desespero dispensável
num curto momento de luz
olha em redor e acena
às manchas sanguineas
do sol que é teu

pára pára
é tempo de regressar
ao nexo

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